22/05/2009

aborto



No dia em que neste país se votou a lei do aborto foi um daqueles dias em que tristemente a minha ideia menos agradável sobre o ser humano tomou uma daquelas formas físicas de arrepiar até o mais céptico. Confesso que sou céptico, muito céptico mesmo, principalmente no que toca à humanidade.

Para alem de céptico em relação à espécie atrás referida, também não creio em qualquer deus. Feitas as contas o que se passou nesse dia enquanto decorria a corrida ás URNAS (se o caso não fosse tão macabro o termo “urnas” pode dizer-se, nunca assentou tão bem) ou não se fosse ali enterrar mais um pouco da nossa desumanidade e já agora impedir uma outra tanta de vir “pra cá chatear”. Mas dizia eu, passei parte desse dia numa espécie de reza minha a pedir a todos os “santinhos” da minha descrença que a coisa se resolvesse a favor da vida e não da morte.
Já sei que parece suspeito, afinal acabei de afirmar que não sou grande apreciador da humanidade, mas uma coisa não invalida a outra, o não acreditar não me impede de respeitar ou pelo menos dar o benefício da dúvida.
Mas se me perguntam se respeito essa “malta” que votou no sim, bem…

Teoricamente, pela lógica e apreciação que faço do ser humano os “tipos e tipas” até estão certos, se a coisa pega mais dia menos século a “raça” extingue-se e finda o inferno na terra.

Mas a minha lógica não é perfeita, ao fim ao cabo também pertenço à espécie.

Os meus valores morais na maioria das vezes vencem a minha cegueira, aquela cegueira que aquele senhor “espanhol” tão bem descreveu num dos seus livros.

Alguém disse, ou melhor perguntou se alguém sabia quantos pobres eram necessários criar para se fazer um único rico.

A desculpa é antiga, a desculpa é a palavra pagã para outra expressão “livre arbítrio” que foi a “desculpa” que os crentes inventaram para justificarem o terem sido “corridos” do paraíso. Afinal de contas tinham sido criados à imagem de “alguém” perfeito mas já “adulto” o que lhe dava uma vantagem sobre a sua “criação”, ora essa sua criação, o Homem, pegou nessa palavra e ao longo da história fez dela a sua bandeira e recusou-se a crescer, no fundo a fazer-se “ um homem”.

Inventem as desculpas que inventarem a história nos julgará a todos.

É de todos a culpa da fome no mundo, é de todos a culpa de cada órfão da vida.

Mas também é culpa de todos dar vida!!!!

E até já dessa começamos a fugir. “Matar” algo é bom, finda-se um problema e como diz o ditado o que os olhos não vêem o coração não sente.

Resta-me para concluir dizer que as minhas “preces” não foram ouvidas. O sim venceu.
Nesse dia chorei por dois motivos bem distintos. No primeiro caso por vergonha por todos aqueles que não vão poder nascer e serem bons ou maus actores desta trama que é a vida.

As minhas outras lágrimas foram de raiva (e sarcasmo).
Raiva pela morosidade de tal apelo feito à sociedade. Se essa votação tivesse acontecido uns bons anos atrás talvez os pais dos “filhos” que nesse dia votaram a favor do aborto
tivessem eles dito SIM e abortado desses “abortos” e hoje não teria de me cruzar com tantos deles na minha vida.

Ps:

Tudo isto podia até nem ter sido escrito por mim, podia acontecer que também eu tivesse ido “sanita” abaixo. Mas estou cá e agradeço por isso a quem me deu vida.
Obrigado Pai, obrigado Mãe.

suspeitoZero